“Temos claro que a ultradireita e a centro-esquerda servem aos donos do Chile, o que, ao verem seus interesses ameaçados, têm pressionado para que o imputado Piñera instale os militares em Wallmapu”
Marri marri pu machi, lonko, pu werken, pu wunen, pu weichave, pu compuche, pu che meli witran mapu.
Ao povo nação Mapuche, aos povos em resistência, à opinião pública nacional e internacional.
Como Weichave de Weichan Auka Mapu, que coabitamos o território lavkenche, declaramos:
O atual estado de exceção, com a presenta de tropas do exército, da infantaria da marinha e de policiais em nosso histórico Wallmapu, não é algo novo para nosso povo, e responde a um plano estratégico político contrainsurgente aplicado pelo governo atual, mas impulsionado e dirigido pelos poderes econômicos com interesses no território, este que é o real poder por trás da classe política, que governou, governa e pretende seguir governando o Chile.
Entendemos esse novo cenário como um fortalecimento à já existente força político-militar, que o Estado chileno colocou à disposição do poder econômico para que proteja seus interesses capitalistas no Wallmapu histórico. Sobretudo no momento em que a resistência mapuche tem obrigado as florestais, os latifundiários, as hidrelétricas e outras expressões capitalistas a abandonar o território.
Esse endurecimento da repressão é uma resposta ao crescimento do povo mapuche em resistência, situação que ser vista no aumento das recuperações de terra de maneira efetiva, no aumento da capacidade de autodefesa nos territórios, a aparição de mais expressões e organizações que realizam atos de sabotagem e o fortalecimento da vida mapuche nas comunidades.
Tal realidade é resultado da continuidade da luta e resistência mapuche de aproximadamente 30 anos, mas que como todo processo com características revolucionárias, sofre com o surgimento de “expressões oportunistas” que sujam os processos de luta.
Assim, como somos conscientes do avanço do movimento de resistência, das ações de sabotagem e da validade do weichan, também somos dos erros que ocorreram neste longo processo e que atualmente tem levado ao inimigo, por meio do monopólio comunicacional, tente deslegitimar a luta, difamando-a e injuriando-a frente a opinião pública.
Acreditamos que é necessário assumir esta realidade e entender que em todo o processo revolucionário de liberação onde existe uma disputa territorial, surgem grupos e pessoas que cometem atos de delinquência comum que prejudicam as comunidades e que dentro da análise atual não se enquadram na luta.
Para nos ajudar a resolver essa realidade, acreditamos que é importante assumir as causas deste fenômeno, que não é novo, mas que tem se tornado visível em paralelo ao processo revolucionário mapuche com o objetivo de queimar o movimento. Consideramos que não é correto afastar-se dos problemas sob uma certa superioridade moral.
Devemos ser capazes, como movimento de desistência, sobretudo os que tivemos responsabilidades e lideranças nos últimos 25 anos de luta, de assumirmos não apenas os aspectos benéficos deste processo, mas também daqueles aspectos negativos que têm se dado em paralelo ao conflito.
Se não fizermos, dificilmente daremos solução ao que hoje nos aflige como povo. Não resolveremos nada impondo critérios morais ou acusando-nos uns aos outros sobre quem é mais responsável quando a permissividade e o ato de jogar a sujeira para debaixo do tapete tem sido uma prática habitual dentro da luta neste território.
A respeito da militarização do território, acreditamos que são vários os motivos para a sua implementação:
Primeiro, como iniciativa populista frente às eleições de novembro, e manobra de distração ante a acusação constitucional do imputado Piñera.
Segundo, frente ao fortalecimento de uma ultradireita dubitativa e amarilla. Temos claro que a ultradireita e a centro-esquerda servem aos donos do chile, o que, ao verem seus interesses ameaçados, têm pressionado para que o imputado Piñera instale os militares em Wallmapu.
Forças militares e policiais, manchadas através da história e que o povo chileno bem conhece. Sabemos que idolatram o dinheiro, uma mostra clara é o caso Pacogate, que entre os anos de 2006 e 2017 se instalou como o maior caso de fraude e corrupção na história do Chile, com um desfalque de mais de 35 bilhões de pesos durante o mando do general ex-diretor Eduardo Gordon. A mega fraude das forças armadas, de mais de 3 bilhões, mediante o uso de mecanismos de engano para transferir dinheiro público para pessoas privadas, fugindo das fiscalizações da controladoria. Com o uso de esquemas confabulados entre seus altos mandos, como fez o comandante chefe Oscar Izurieta no caso Frasim e Tecnometal, com desvio de verbas, da lei reservada do cobre.
Mas a PDI não fica atrás nesta corrida de corrupção, como demonstram os fatos, com o ex-diretor Héctor Espinoza, acusado por malversação de verba publica, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos. Fica demonstrado a forma operacional desta logica delinquencial chamada forças armadas e de ordem, que operam a custas das necessidades do povo chileno.
Porém, não só de dinheiro se mancham as mãos desses sequazes, lembremos sua história de crimes…
21 de dezembro de 1907, na “matança da escola Santa Maria”, 126 operários foram assassinados por militares chilenos segundo seus próprios cálculos – quando na história se sabe que chegou a mais de 2 mil mortos –, tingindo com sangue as ruas de Iquique. Assassinatos a mando do empresariado salitreiro para acabar com o movimento operário no norte do Chile.
Ou o papel cumprido cabalmente pelas já mencionadas instituições da vergonha no golpe de estado de 1973, massacrando e assassinando seu próprio povo, sem falar dos detidos desaparecidos.
A memória mais recente, outubro de 2019, chamada “revolta social”, mutilações, estupros, assassinatos e mais de 541 investigações encerradas pela promotoria sem responsáveis por violações aos Direitos Humanos contra menores de idade. E tantas outras sem justiça, como o assassinato de Manuel Rebolledo, em Talcahuano, em 22 de outubro do mesmo ano, ou o histórico desaparecimento de José Huenante de apenas 16 anos a mais de carabineiros em Puerto Montt no dia 3 de setembro de 2005.
Em resumo, a nova força policial e militar lacaia e instrumental dos interesses políticos e a serviço dos seus proprietários capitalistas. Portanto, é uma guarda mais bem treinada, mas mais do que isso, cães de guarda dos ricos.
Ricos que têm seus interesses em Wallmapu, em investimentos florestais, hidroelétricas, latifundiárias, empresas imobiliárias e extrativistas.
Convidamos a analisar e assumir a realidade atual, reconhecendo o positivo e o negativo que se dão neste território durante os processos de luta. Em comum com os elementos próprios de nossa cultura dirigido pelo AZ Mapu, AZ Mongen por meio do malón e wichan, reconhecendo o nxtram, txawun e kelluwun como as práticas cotidianas e válidas para apoiar a luta e o controle territorial efetivo. Práticas que permitiram aos nossos kuvikecheyem sustentar o weichan contra os invasores inkas, espanhóis e o Estado chileno, sem perder de vista o contexto no qual o weichan está se dando atualmente.
Como weichan auka mapu:
Reafirmamos nosso compromisso revolucionário nas ações de sabotagem aos interesses capitalistas que destroem e devastam a ñuke mapu. Assim como as ações armadas que são concordantes com as necessidades de nossos lov e comunidades, reais garantidores e possuidores da legitimidade territorial.
Pelos weichave caídos em combate
liberdade aos presos políticos mapuche
liberdade aos presos políticos do povo chileno
ÑIELOLE MAPU MULEAY AUKAN
WEICHAN AUKA MAPU.
Novembro 2021.