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Sobre o assassinato de Dom e Bruno

Divulgamos aqui a nota da UNIJAVA em resposta às declarações da PF que tenta abafar o caso afirmando que não houve mandantes no assassinato do repórter e do indigenista. A UNIJAVA destaca que enviou inúmeras denuncias e relatórios à PF que nunca se mobilizou para proteger os povos indígenas, seus territórios e seus aliadxs.

São muitos os indígenas que faleceram nos últimos anos no coração da Amazônia diante dos avanços da mineração, dos madeireiros, do garimpo e toda série de agressão contra a floresta e a quem a pertence e a defende.

A morte de Dom, provavelmente por ser europeu tem indignado o mundo, tomará que essa indignação permaneça diante dos ataques cotidianos que os povos da floresta vêm sofrendo neste país. No dia 15 de junho, o indígena Atikum, Edinaldo Manoel de Souza, de 61 anos, foi brutalmente assassinado por militares no quintal da sua casa no município de Carnaubeira da Penha (PE). Há um mês, foi o guerreiro Sarapó Ka’apor que faleceu de morte súbita após ser envenenado próximo à Área de Proteção onde morava, Paulo Paulinho Guajajara, guardião da Floresta foi morto com um tiro nas costas em novembro de 2019, Zezico Rodrigues Guajajara também assassinado a tiros em março de 2020, defendia a floresta, Ari Uru-Eu-Wau-Wau, espancado até a morte em abril de 2019, fazia parte de um grupo auto-organizado de defesa da floresta. Por eles e todos os e as guerreiras que lutam para que a floresta siga em pé, que lutam pela preservação de modos de vida conetados com a natureza, que lutam por um mundo onde caibam muitos mundos, não podemos ficar calados!

Acontecerá nos próximos dias vários atos em diversas cidade do país em memória de Bruno e Dom, e pedindo “Justiça” para Dom e Bruno.

Vale lembrar que os indígenas do Vale do Javari também se manifestaram em Alta Mira, além disso também importante é destacar que foram os indígenas os que conseguiram encontrar os pertencentes de Dom e Bruno.

Sobre as manifestações:

Dia 18/06 às 11h no MASP em São Paulo

Dia 19/06 às 9h na Praça da República em Belém do Pará

Dia 19/06 às 15h no Gazômetro em Porto Alegre

Dia 19/06 às 9h30 no Eixão Norte em Brasília

Dia 21/06 às 12h na UFAM em Manaus

Dia 23/06 Protesto contra o Marco Temporal às 15h na Esquina democrática em Porto Alegre

Toda nossa solidariedade à família e amigxs de Dom e Bruno e nosso profundo apoio aos indígenas do Vale do Javari!

 

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Segue a Nota integra da UNIJAVA

Em Nota à Imprensa, no dia 17 de junho de 2022, a Polícia Federal (PF) registrou que as buscas pela embarcação utilizada pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dominic Phillips no dia do desaparecimento (05/06/22) continuam com o auxílio dos indígenas da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU).

No entanto, a PF, através da “Operação Javari”, registrou que: “Informa, também, que as investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito.”

Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela UNIVAJA em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, período de implementação da EVU. Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Do Santo fazem parte. Esse grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito pela EVU em ofícios enviados ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais.

O requinte de crueldade utilizados na prática do crime evidenciam que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou à todo custo ocultar seus rastros durante a investigação.

Esse contexto evidencia que não se trata apenas de dois executores, mas sim de um grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime. Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos à eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari.

(port) Após assassinato de jovem Guarani Kaiowá, comunidade faz retomada no local onde ele foi baleado

 

Alex foi baleado no sábado 21 de maio quando saiu do Território Indígena (TI) Taquapery, onde morava, junto com dois outros jovens Guarani Kaiowá, para buscar lenha na vizinhança. Seu corpo foi encontrado com cinco perfurações de arma de fogo, do lado paraguaio da fronteira, a menos de dez quilômetros dos limites do território. Ele é a quarta pessoa da família a ser assassinada no município de Coronel Sapucaia, desde 2007.

O território Guarani e Kaiowá está cercado por fazendas e fazendeiros que querem sua morte! Fica muito dificil para eles subsistirem, além disso, o simples ato de circular na região – e até em áreas já reconhecidas como parte do Território Indígena – em algo arriscado e fatal. Numa carta ’à justiça”, Aty Guassu sangra por mais uma morte de um companheiro Guarani Kaiowá, o jovem Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos.

Após o assassinato do jovem, num ato de coragem e profunda resistência, a família decidiu fazer uma retomada no local onde o jovem foi baleado, perto da fronteira, numa fazenda conhecida pelos Guarani Kaiowá como Tekoha Jopara. No mesmo dia da retomada, os fazendeiros apoiados pelo Estado impediram o acesso à área com um bloqueio de viaturas do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), deixando a retomada ainda mais isolada.

Toda força à Tekoha Jopara
Viva a luta dos povos Guarani e Kaiowá
Viva a Aty Guassu!

Leia a carta da Aty Guassu.

Para saber mais sobre o caso aqui.

CARTA PARA A JUSTICA, ONDE QUER QUE ELA ESTEJA!

Nosso coração está sangrando. Não só o coração de cada Kaiowa e Guarani, mas o coração da própria Aty Guasu. Sentimos na alma, junto a nossa reza, nossos Mbaraka e Takuapu que o próprio coração da Mae Terra está sangrando junto do choro de dor que se espalha, como um canto fúnebre, por todos os nossos territórios.

Hoje amanhecemos TODOS com a mesma dor, angustia e indignação dos parentes de Takuapery. Com o assassinato brutal e covarde de Alex Lopes morreu uma parte de todos nós. Com a vida tirada de Alex Lopes a cicatriz que nos acompanha desde que nascemos voltou como um fantasma a doer dentro de cada Kaiowa. Revolta e medo dançam nas nossas visões.

Alex, menino de 18 anos, cheio de sonhos, como as demais crianças e jovens lutava – por que no MS para um Kaiowa viver é lutar – para ter um futuro em meio a Violência e Genocídio que nos cerca. Ele é o quarto da família extensa Lopes que é assassinado em Coronel Sapucaia desde 2007, em uma sequência de ataques que nunca para e que nunca parou contra nossos territórios.

O corpo sem vida deste jovem, como de nossa anciã e Nhandecy Xurite Lopes é somente a parte que toma dimensão publica de um massacre estrutural, intencional e permanente que segue velado. Nosso povo, por forca da nossa espiritualidade ou apenas por esperança busca encontrar, para acalmar o espirito de todos que tombaram, uma senhora chamada justiça. Por mais que busquemos ela, incessantemente por décadas, infelizmente, ainda não a encontramos, nem sequer a conhecemos. Em nossa busca incansável por esta Senhora não menosprezamos a sua esfera Estadual, e a qualidade de seus promotores, mas precisamos dizer que se este caso, como aconteceu com Denilson Barbosa – outro jovem assassinado em Caarapó em 2013 – acabar novamente nas mãos do Estado, estaremos condenados a ver ser estendido uma vez mais sobre o genocídio sofrido por nosso povo uma mortalha ou um pano tal qual hoje cobre o corpo de Alex.

Explicamos: Não precisamos dizer com palavras que vivemos em um Agro-Estado, nossa demarcação paralisada e ameaçada, os números de assassinatos e violações contra nosso povo e todas as manifestações publicas dos ruralistas contra nos – inclusive criminosas e violentas – já dão conta disso.

Então mesmo que encontremos a Senhora Justiça por aqui sabemos que não seremos vistos por ela como se deve. Ela sem sombra de dúvida sentará, mesmo que por coação ou forcada, na grande mesa farta dos fazendeiros.

Quando como no caso de Denilson Barbosa foi negado o nosso pedido de levar a discussão para esfera federal, entendemos que o que operou foi a compreensão de que se tratava de um assassinato isolado, localizado e não de uma questão que afeta nosso povo como um todo ou ao menos uma de nossas comunidades como um todo. Pois bem, do assassinato de Denilson para cá o que aconteceu? Mais de 30 ataques paramilitares a territórios – como no massacre de Caarapó que custou a morte de outro jovem, nosso querido Clodiodi – outros assassinatos como no caso de Simeão Vilhalva, e dezenas de mortes que por forca da invisibilidade e do racismo, ficaram sem solução, sub-notificados ou esquecidos. Vimos de tudo, a imprensa local fazer seu lobby diário travestido de todas as formas de racismo, os fazendeiros entrando e saindo dos prédios inclusive pressionando juízes – e afinal quem não se sentiria pressionada em realidades de fronteira? Vimos de tudo mas não vimos a Senhora Justiça.
Taquapery não é diferente. A reserva sofreu reduções desde seu ato de criação em 1928 que a deixaram com quase um terço de seu tamanho original. Nas terras que eram nossas, se instalaram as fazendas que vem promovendo violência contra nosso povo todos os dias. A retomada por parte das famílias em dor, de uma destas fazendas, onde Alex foi morto, se deu exatamente como um grito de chega, como em 2013, no Caso Denilson, onde as mães cansadas de enterrar seus filhos também retomaram, no movimento conhecido como Mamãe Kuera.

Neste caso, ocorrido em Caarapó, a competência foi destinada como
Estadual e nunca houve justiça, estando o caso – há mais de 10 anos – ainda em fase de audiências de instrução. Precisa-se dizer mais? Vocês imaginam o quanto nos doi uma coisa dessas?

Há muito instancias nacionais e internacionais de Direitos Humanos, inclusive a ONU e a OEA vem alertando e debruçando sobre o caso dos Kaiowa como risco de genocídio. Inúmeros estudos e denúncias dão conta de ligar os assassinatos contra nosso povo a um projeto histórico de dominação e morte.

Alex não é um caso isolado e não podemos deixar que assim seja definido. A morte de Alex é mais um ataque contra nosso território e a vida de nosso povo. Não foi apenas uma família – a de Alex que se levantou contra seu assassinato – mas sim toda uma comunidade. Isso não se daria caso a comunidade não tivesse em sua alma a noção de que lhes foi infringido um ataque coletivo, mais um de tantos. Não é mesmo?

Por isso, nós da Aty Guasu Kaiowa e Guarani –Movimento indígena que representa a totalidade dos territórios de nosso povo, para fazer valer a vida do menino Alex e de todos os outros, exigimos e suplicamos, que tenham os operadores de justiça sensibilidade e humanidade e permitam que sejamos julgados pela Esfera Federal. Que nos seja permitido o direito sobretudo de uma Perícia Federal – longe da influência do Agro-Estado.

Esta é a única maneira de tratar esse massacre que sofremos como se deve, e na contramão deste estado ruralista, fazer com que nosso povo um dia encontrar a tão esperada senhora chamada Justiça acreditando que é possível sonhar em encontra-la em um horizonte não tão distante.

OBS: Esta carta foi lavrada por mãos tremulas de nossos professores, que entre tristeza e comoção, prestaram este serviço a nosso povo na esperança de conquistar ao menos um pouco de reparação por toda violência histórica e pela omissão e morosidade da Justiça para com os Kaiowa até o presente momento.

Assinam esta carta:
Simão Kaiowa
Erileide Domingues
Eliseu Lopes
Otoniel Ricardo
Lucine Pedro de Almeida
Leila Rocha
Conselheiros da Grande Assembleia Kaiowa e Guarani da Aty Guasu
Taquapery, Coronel Sapucaia, 23-05-2022.

(port) Nova mobilização dos povos originários contra o Marco Temporal

A partir do dia 23 de junho de 2022, os povos originários que habitam o território controlado pelo Estado brasileiro estarão novamente mobilizados contra o Recurso Extraordinário (RE) n.º 1.017.365, também conhecido como tese do Marco Temporal. Os povos Xokleng, Kaingang e Guarani da Terra Indígena Xokleng Laklaño, no Estado de Santa Catarina, são o foco deste processo. No entanto, ele foi considerado pela Suprema Corte em 2020 como caso de Repercussão Geral, ou seja, poderá afetar a todos os povos que habitam esta terra atualmente chamada Brasil.

A Tese do Marco Temporal determina que as terras em processo de demarcação ou as futuras a serem recuperadas devem comprovar a ocupação no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal de 1988. Tal tese ignora assim o esbulho histórico dos territórios dos povos originários assim como a violência colonial que estrutura a construção deste país. Ignora também que estes povos vivem aqui antes da formação de qualquer Estado e sistema judiciário, bem como dos limites territoriais associados a eles. Como bem reafirmam os povos originários em luta contra o marco temporal: “Nossa história não começa em 1988”.

A iminência de aprovação desta tese multiplicou nos últimos tempos as invasões a territórios indígenas, assassinatos, estupros assim como tentativas de cooptação de lideranças, especialmente por garimpeiros, empresas de mineração, grileiros de terras e representantes do agronegócio, interessados na madeira do desmatamento e na produção de commodities para exportação. Estes, por sua vez, estão representados no Congresso Nacional pelas bancadas ruralistas e evangêlicas, que tentam legitimar e legalizar suas ações de extermínio através dos Projetos de Lei: 490/2007, do Marco Temporal; 191/2020, da Mineração em Terras Indígenas; 2633/2020 e 510/2021, da grilagem de terras públicas.
A Associação dos Povos Indígenas do Brasil lançou um chamado aos parentes, solidarixs e companheirxs para uma ampla mobilização na cidade de Brasília a partir do 23 de junho.

Todo nosso apoio aos povos originários em luta!
Que a solidariedade atravesse muros e fronteiras!

Saiba mais sobre o Marco Temporal aqui.

(port) RJ – Barricada contra o garimpo e em solidariedade aos povos indígenas

Na manhã dessa segunda-feira, 16 de maio, ocorreu uma manifestação na Av. Francisco Bicalho, no Centro do Rio de Janeiro, manifestantes bloquearam a Avenida por volta de uma hora e ergueram barricadas com pneus em protesto contra o garimpo ilegal e em apoio a luta indígena.

Fonte: Mídia1508

(port) Vídeo e relato de ato em solidariedade ao povo yanomami e contra o garimpo

Na última segunda-feira, dia 9 de maio de 2022, ocorreu em São Paulo, junto com Porto Alegre, manifestação em solidariedade ao povo yanomami, que vem sendo mais uma vez alvo de ataques de garimpeiros. Santos e Brasília haviam realizado manifestações dias antes. Em um momento no qual a discussão sobre eleições que se aproximam impregna de maneira rançosa o ar – monopolizando as discussões, produzindo um falatório sem fim em defesa deste ou daquele candidato como salvação para os problemas – os povos indígenas seguem sangrando.

Neste contexto, a manifestação em São Paulo reuniu centenas de pessoas atrás de uma faixa que dizia “Bra$il é terra indígena! – FORA GARIMPO!”, sem carro de som ou aparelhamento partidário, interrompendo o fluxo da maior avenida da cidade de São Paulo, símbolo do capitalismo e do domínio urbano sobre a terra. Se para muitxs pode parecer sem sentido a realização de uma manifestação dessa em meio à uma glamourosa avenida de uma grande cidade, sinal do progresso econômico e civilizatório, para nós não haveria lugar mais simbólico: esta e todas as cidades são um imenso símbolo de destruição, de violência CONTRA esta terra e aos povos que a habitavam e a habitam, violência colonial, e, portanto, nada mais preciso do que lembrar que tudo aqui é terra indígena.

A manifestação reuniu pessoas de diferentes povos e apoiadorxs solidárixs que saíram às ruas frente ao intolerável da situação em que vivemos. Como nós anarquistas reafirmamos há mais de um século, solidariedade é mais do que palavra escrita; não começa e nem morre nas telas de um computador ou celular. Diversas falas reiteraram que a violência aos yanomami ou aos demais povos originários não é algo novo: é parte de um processo colonial em curso desde 1500, quando esta terra foi invadida pelas caravelas européias.

Varias falas durante o ato reafirmaram que enquanto a maioria espera uma suposta salvação que ocorreria em outubro nas urnas, o duplo capitalismo-estado, indissociável um do outro, segue expandido seu projeto de devastação e extermínio. Na terra, monocultivo e latifúndio; no modo de vida, dominação e uniformização, padronização com base no modelo de cidadão democrático, à espera de um líder que nos salvará. E pra quem escapa desse modelo ou é um obstáculo à sua expansão, sobra a violência, o ataque, a denúncia, a agressão, o silenciamento, a morte.

Ao caminharmos, foi impossível não lembrar que no entorno de todos aqueles gigantes de pedra e aço correm rios; embaixo dos prédios e das calçadas brotam plantas que, com suas raízes, seguem criando rachaduras permanentes no cimento. E aqui não há metáfora, idealização ou romantização. Basta ver. Não há nada mais concreto. Apesar de uma aparente estabilidade, este sistema, esta cidade, esta forma de vida chamada de civilizada, não são eternos e vão ruir.

Tudo aqui é terra indígena!
NÃO AO GARIMPO!
Solidariedade aos povos em luta!

furiosxs em algum canto da cidade,
12 de maio de 2022.

Fonte: Edições Insurrectas