No dia 13 de maio, faleceu Sarapó Ka’apor, membro dos Tuxa Ta Pame, chefe da guarda de autodesefa Ka’apor e maior estrategista na resistência contra as forças agressoras da floresta e do território ancestral do povo Ka’apor. Sua morte se deu após a ingestão de um peixe que lhe foi oferecido por um morador da região. Sarapó foi a única pessoa a consumir esse peixe em uma quantidade considerável, visto que os parentes com quem compartilhou a comida acharam estranho o gosto do peixe.
Devido às agressões das mais diversas formas que a resistência Ka’apor vem sofrendo de madeireiros, mineradoras e garimpeiros, principalmente depois de intensificarem seus esforços de autodefesa, levantou-se a suspeita quanto às condições da morte de Sarapó. Será que foram causas naturais ou os inimigos de Sarapó e de todo o povo Ka’apor que, não podendo silenciá-lo de outra forma, apelaram para métodos torpes?
Essas dúvidas aumentaram quando, no dia do sepultamento, não-indígenas presentes no local apresentaram um comportamento suspeito: risos, ironia, brincadeiras e chacotas uns dos outros. Enquanto isso, parentes e amigos de Sarapó cavavam sua sepultura, entristecidos e chorosos.
Após o acontecido, indivíduos suspeitos também passaram a rondar a entrada da aldeia em que vivia Sarapó, (Área de Proteção ARARORENDA, municipio de Centro do Guilherme), MARANHÃo, como se estivessem empoderados após matar um grande guerreiro e estrategista da Resistência Ka’apor.
Com essas suspeitas em mente, a Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos (SMDH) sugeriu ao delegado de Santa Luzia do Paruá, município próximo, que solicitasse a exumação do cadáver de Sarapó para descobrir a verdadeira causa de sua morte. No entanto, percebe-se morosidade e desinteresse por parte das instituições do Estado em resolver esse caso. Até agora informaram que não conseguiram ter um coveiro para possibilitar a realização do trabalho dos peritos amanhã (11/06/2022). Afinal de contas, a autonomia de um povo indígena está sempre contra os interesses do Estado colonial. Portanto, se quisermos respostas, precisamos de pressão popular.
Saber a verdade sobre esse acontecido é um direito do povo Ka’apor, de todos que eram próximos ao grande guerreiro Sarapó e de qualquer um que apoie a causa dos povos indígenas. Sendo assim, exigimos do Estado que realize a exumação do cadáver de Sarapó Ka’apor o mais rápido possível, para que as chances de descobrir a causa mortis não diminuam. Também exigimos, caso seja comprovada alguma causa não natural de morte, a responsabilização de todos os envolvidos.
O povo Ka’apor não está sozinho! O povo Ka’apor não irá se calar!
O povo Ka’apor não irá permitir que continuem matando os seus, seja pela força bruta, seja por métodos indiretos!
O povo Ka’apor resiste e segue em luta!
MANIFESTAÇÃO
Nos dias 13, 14 e 15, o povo Ka’apor, junto com apoiadorxs, realizará uma manifestação em defesa de seus territórios, que vêm sendo invadidos sistematicamente por madeireiros e garimpeiros. Elxs também tem sido alvo de agressões constantes, como a ocorrida no dia 13 de maio, quando o guerreiro Sarapó Ka’apor morreu com suspeita de envenenamento.
Os ka’apor são um povo guerreiro, localizado no Território Alto Turiaçu, no Maranhão, que realiza a autonomia na prática, defendendo com as próprias forças e corpos seu território ancestral.
SARAPÓ VIVE!
TODA FORÇA E SOLIDARIEDADE AO POVO KA’APOR!